
Noite na Taverna
Noite na Taverna é de autoria de Álvares de Azevedo, integrante da segunda geração romântica brasileira (conhecida como ultrarromantismo ou mal do século), cuja principal característica era o pessimismo do século 19 e o trabalho com temas como incesto, morte, embriaguez, misticismo, sobrenatural e a fuga da realidade e influencias de autores como Lord Byron, Wilhelm Hoffmann e Percy Bysshe Shelley, os expoentes do romantismo europeu da época.
A obra, como o próprio nome sugere, nos mostra um cenário noturno onde somos apresentados à cinco personagens (Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann) durante uma noite regada a bebidas, conversas em alto tom e histórias inusitadas. Cada personagem conta sua história, uma mais fantástica e sinistra que a outra, até que enfim chegamos à uma inesperada conclusão.
Movido pela imaginação, o volume apresenta marcas do mal do século, como egocentrismo, pessimismo, satanismo e atração pela morte. As narrativas desta obra recebem certa dose de magia e coerência por envolver o leitor. E se as histórias relatadas não são verossímeis, pelo menos disfarçam suas incoerências pela atração com que o autor conduz sua imaginação, de modo que quase parecem reais, colocando-as envolvidas por uma onda infindável de orgias deboches, sátiras, paixões transfiguradas, relatadas pela pequena galeria de personagens boêmios que vão tomando a palavra. Das páginas de Noite na Taverna vão surgindo relatos impregnados de um clima inumano e anormal.
Tenta-se fugir da realidade na bebida e na fantasia demonstrando estrema melancolia e pessimismo em relação à vida. Percebemos aí uma das características do Ultrarromantismo (segunda fase): o mal-do-século. Nesta fase os escritores descreviam paisagens sombrias, acontecimentos misteriosos.
A supervalorização do amor é outra característica marcante nesta obra de Álvares de Azevedo. Tendo o amor em primeiro plano. Estão em busca do amor de uma mulher perfeita, que corresponde a todas as expectativas. Destacamos aí a idealização da mulher, como uma figura inalcançável e perfeita em todos os sentidos: pura, alva, sensível, bela (amor espiritual). A conquista da mulher amada é dificultada por vários acontecimentos. Há sempre um obstáculo que impede a personagem de alcançar esse objetivo. Além do amor espiritual, identificamos também no texto o amor físico, onde há um contato entre a personagem e a mulher amada. Apesar disso, esse amor não é completo, já que as circunstâncias impedem que fiquem juntos. Esse impedimento causa o descontentamento e a depressão da personagem.
As histórias prendem o leitor num suspense e acabam passando a ideia de que os protagonistas são pessoas perigosas, assassinos sem nenhum escrúpulo, como se tivessem prazer de contar suas histórias macabras. E o que chama a atenção é que nenhum foi preso ou pego para pagar por seus atos horríveis.
Existe a valorização em belas declarações e poemas, onde existe grande envolvimento dos personagens. Mas também mostra o amor doentio, acima de tudo, das regras, conceitos sociais e religiosos, não importando as consequências que esse amor trará, valorizando assim o momento do agora, do prazer. Trazendo assim frustrações, decepções, crimes e amores pervertidos. Com isso trazendo uma desvalorização da vida, pois a vida não faria mais sentido sem a mulher amada.
Álvares de Azevedo é um dos principais representantes desta fase literária, e tem entre suas outras obras mais conhecidas, Lira dos Vinte Anos e Macário.
Elementos da narrativa
Enredo:
O livro se apresenta em sete partes: "Uma noite do século", "Solfieri", "Bertram", "Gennaro", "Claudius Hermann", "Johann" e "Último beijo de amor".
O enredo se passa com um grupo de jovens numa taverna. Reunidos, eles contam histórias trágicas, impregnadas de vícios, de crimes hediondos que vão de assassinatos a incestos, de infanticídios e fratricídios. Todos os casos são justificados por um amor pervertido, relações loucas, absurdas e irreais.
Personagens:
Solfieri era um jovem boêmio alcoólatra, que se envolve em uma aventura amorosa com uma mulher misteriosa. A mulher amada e idolatrada de Solfieri era como um anjo para ele. Era uma pessoa que sofria de catalepsia e era depressiva.
Bertram tinha pele branca e olhos verdes. Alcoólatra, boêmio e influenciado por sua amada, muda seu jeito amável de ser, tornando-se um ser reprovável e desprezível, provocando a sua própria decadência. Sua amada Ângela, era uma morena espanhola. Na visão de Bertram, era calma, pura, uma mulher perfeita, um verdadeiro anjo. Mas no decorrer da história, como prova de amor, ela se revela, mostrando seu lado agressivo e cruel.
Gennaro era um pintor bonito quando jovem, puro, pensativo e melancólico. Era cínico e não respeitava o sentimento dos outros. Tornou-se desonrado, mas não podia esquecer seu grande amor, Nauza, esposa de Godofredo Walsh que foi professor de pintura de Gennaro. Godofredo agia por impulso, quis vingança ao saber que foi traído pelo seu próprio aluno. Laura era filha de Godofredo do primeiro casamento. Amava Gennaro, mas era um amor puro, sem malícias. E por esse amor, foi desiludida.
Nauza era jovem, bonita, tinha a pele macia, sentia-se carente, mas encontrava carinho nos braços de Gennaro, seu amor.
Claudius Hermann era muito rico e por isso, gastava muito em orgias. Não se importava com a desonra, nem com o adultério. O que lhe importava era ter a sua amada, Eleonora.A Duquesa Eleonora era bela, pura, linda e vaidosa. Tinha a pele alva e cabelos negros. Ela amava o seu marido, mas resolve fugir com Claudius após ter se relacionado com o mesmo pensando ser seu amor. Esta atitude estranha da moça se deu por ela não querer ser considerada adúltera.
O Duque Maffio era marido da Duquesa Eleonora. Amava-a loucamente, o que o levou ao assassinato de sua esposa e o seu suicídio.
Johann era um boêmio obsessivo, curioso e nervoso. Desonra a própria irmã e mata o irmão, sem saber.Geórgia irmã de Johann era pura, inocente e apaixonada, mas no decorrer da história ela se entrega para ele crente de que era para seu amor.
O Irmão de Johann era protetor, uma vez que ao ver que um homem desonrara a irmã, quis matá-lo.
Protagonistas
Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann, Johann, Artur, Geórgia.
Personagens secundários
Mulher de Solfieri, Ângela, Godofredo Walsh, Laura, Naura, Eleonora, Duque Maffio.
Tempo:
Sobre os limites do tempo e do espaço nada se encontra de seguro ou de definitivo, como datas época ou duração. Os fatos acontecem em alguma taverna, em algum lugar, em algum tempo, tudo muito vago.
O livro foi escrito tanto em tempo cronológico como em tempo psicológico. O tempo que decorre dentro da taverna é cronológico, real.
Ocorre o que chamamos flash back. A partir do momento que os jovens começam a contar suas histórias, eles mergulham nas lembranças do passado e o tempo passa a ser psicológico. "Era em Roma. Uma noite a lua ia bela como vai ela no verão por aquele céu morno, o fresco das águas se exalava como um suspiro do leito do Tigre. A noite ia bela".
No decorrer do livro, há uma alternância entre estes dois tempos. Quando uma personagem está contando sua história, ela retorna ao ambiente da taverna, não permanecendo direto no tempo psicológico.
Ambiente:
De início, o ambiente é um local comum: uma taverna. Através das conversas entre os jovens boêmios vemos que estes estão em profunda depressão e melancolia, bebendo, fumando. Discutem sobre descrenças religiosas e a imortalidade da alma. Começam então a contar as histórias de amor, assassinatos, violência e morte. Todas estas histórias ocorrem durante um momento de delírio e de muito desabafo. A partir das misteriosas e trágicas histórias o leitor é transportado para um ambiente muito diferente do que está acostumado.
Narrador:
O livro inicialmente é narrado em terceira pessoa, onde apresentam os personagens na taverna, depois se torna em primeira pessoa com cada personagem contando suas historias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário