O Navio Negreiro
(Tragédia no mar) Castro Alves
'Stamos em pleno mar...
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
O poema “Navio Negreiro- tragédia no mar” foi escrito por Castro Alves em São Paulo, em 1868, vinte anos depois, da promulgação da Lei Eusébio de Queirós de 1850, que proibia o tráfico de escravos, daí o tom de denúncia do Poema, já que o tráfico negreiro continuava ocorrendo ainda assim. O poema é bastante intenso emocionalmente. Castro Alves buscou provocar em seus leitores a mesma indignação que sentia em relação à situação dos negros escravizados no Brasil.
Enquanto os escritores da primeira geração romântica (indianista) tomaram o índio como herói, Castro Alves coloca como herói o negro, que pertencia a uma casta inferior na sociedade e na época, não era visto como um ser humano de valor.
A poesia social que denunciava os horrores da escravidão e discutia a situação dos negros defendendo a abolição, se diferencia da segunda fase (ultrarromântica) por lutar por uma causa social e não apenas individual, porém apresenta também características como: melancolia, frustração, pessimismo e morte.
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
O poema “Navio Negreiro- tragédia no mar” foi escrito por Castro Alves em São Paulo, em 1868, vinte anos depois, da promulgação da Lei Eusébio de Queirós de 1850, que proibia o tráfico de escravos, daí o tom de denúncia do Poema, já que o tráfico negreiro continuava ocorrendo ainda assim. O poema é bastante intenso emocionalmente. Castro Alves buscou provocar em seus leitores a mesma indignação que sentia em relação à situação dos negros escravizados no Brasil.
Enquanto os escritores da primeira geração romântica (indianista) tomaram o índio como herói, Castro Alves coloca como herói o negro, que pertencia a uma casta inferior na sociedade e na época, não era visto como um ser humano de valor.
A poesia social que denunciava os horrores da escravidão e discutia a situação dos negros defendendo a abolição, se diferencia da segunda fase (ultrarromântica) por lutar por uma causa social e não apenas individual, porém apresenta também características como: melancolia, frustração, pessimismo e morte.
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