Amor de Perdição
Camilo Castelo Branco
“Amor de perdição” é considerada um marco
do Ultra-Romantismo Português, uma obra que se tornou um dos grandes clássicos
da literatura universal. Podemos dizer uma nova versão portuguesa de
"Romeu e Julieta".
Seu autor, Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu em Lisboa, em 1825,
conquistou fama com a novela passional Amor
de Perdição. Bem ao gosto romântico, a característica principal da novela
passional é o seu tom trágico. São historias intensas sobre paixões sofridas e frustrantes.
Mesmo se os amantes conseguirem ficar juntos, isso é conseguido a custa de
muito sofrimento. A felicidade no amor, frequentemente, vai de encontro aos
valores sociais e morais da época. Amor de Perdição foi escrito em 15 dias, em 1861, durante
o tempo em que o escritor esteve preso na cidade do Porto, por ter-se envolvido
em questões de adultério, o que era considerado crime na época.O corregedor manda o filho para Coimbra para esquecer a moça. Já Teresa recebe do pai duas opções: ou se casar com o primo Baltazar ou vai para o convento. Teresa rejeita o casamento. Por isso será enviada para o convento de Monchique, no Porto.
A obra “Amor de perdição” é em parte
inspirada na própria historia de vida de Castelo Branco e também no drama
shaekespereano “Romeu e Julieta”, a obra focaliza dois apaixonados que têm como
obstáculo para a realização amorosa a rivalidade entre as famílias. A ação se
passa em Portugal, século 19. Habitantes da cidade de Viseu, duas famílias
nobres, os Albuquerques e os Botelhos, odeiam-se desde que o corregedor
Domingos Botelho deu ganho de causa contrário aos interesses dos Albuquerques
em um processo. Simão Botelho, protagonista da nossa historia, é um dos cinco
filhos do corregedor. Devido ao seu temperamento impulsivo, Simão envolve-se em
confusões. Seu pai o manda estudar em Coimbra, mas ele se envolve em novas
confusões e é preso. Ao ser liberto, volta para Viseu e se apaixona por Teresa
Albuquerque, filha de seus vizinhos inimigos. A paixão por Teresa opera uma rápida
transformação no rapaz. Simão se regenera, torna-se estudioso, passa a ter como
valor maior o amor, e todos os seus princípios são dele decorrentes. Os pais
descobrem o namoro.
O corregedor Botelho e o fidalgo Albuquerque, por odiarem-se ferozmente, proíbem os respectivos filhos de
falarem uns com os outros. Não tarda muito para que os jovens apaixonados passem a sentir ódio de
seus pais.
Simão, enlouquecido pela saudade de sua amada,
decide voltar para Viseu para estar perto de Teresa. Furtivamente, é hospedado
pelo seu amigo, o ferreiro João da Cruz, homem destemido, forte e fiel.
Proibidos de se encontrar, os jovens
passam a trocar correspondência por cartas, ajudados por Mariana, filha do ferreiro João da Cruz. Teresa mesmo confinada escrevia
a Simão, contando a angústia por que passava e haveria de passar, sob as
pressões de seu primo e de seu pai. Mariana, a jovem que entrega as cartas, é apaixonada por Simão, embora saiba que esse amor jamais
poderá ser correspondido, seja pelo fato de Teresa dominar o coração do rapaz
seja pela diferença social: ela era de condição humilde, filha de um ferreiro.
Mesmo assim, ama a ponto de encontrar felicidade na felicidade do amado. Mariana
encarna o amor romântico abnegado.
Enlouquecido, Simão resolve raptar
Teresa, mas Baltasar tenta impedi-lo, Simão acaba por matar seu rival e se
entrega à polícia. É um ato corajoso de Simão, pois ele é o típico herói
romântico. Matou por amor à Teresa, portanto assume seu ato e faz questão de
pagar.
Simão é preso e condenado à forca. Mariana, por
sua vez, procura estar sempre ao lado de Simão, ajudando-o em todas as
ocasiões. Devido à interferência do corregedor Domingos Botelho, pai de Simão, a
pena é convertida ao exilo nas Índias. Em meio a tanta tragédia, Simão, toma
conhecimento que seu fiel amigo João da Cruz havia sido assassinado.
Mariana, sem ter mais ninguém, resolve
acompanhar Simão ao exílio. A jovem tem esperança de que longe de Teresa
poderia tentar fazer Simão feliz.
Teresa começa a ter sua saúde abalada. Definha cada vez mais triste e
muito magoada, a linda fidalga parece ter perdido a vontade de viver. Seu fim
aproxima-se, recusa-se a evitá-lo.
Ao embarcar rumo à Índia, Simão contempla pela
última vez no mirante do convento, a mulher que fora responsável por tudo
aquilo. Também Teresa contempla o navio que levava seu amado. Quando ele está
partindo, Teresa, enfraquecida, pede que a coloquem no mirante do convento,
para ver o navio que levará seu amado para longe. Após acenar dizendo adeus,
morre. Sua paixão desmedida a levou à perdição.
Simão, antes de seguir seu destino, toma
conhecimento da morte de Teresa e, profundamente consternado e deprimido, segue
rumo ao exilo.
Alguns dias após a partida, Simão tem
uma febre inexplicável e morre. Na manhã seguinte, seu corpo é lançado ao mar. Sua paixão desmedida o levou à perdição.
Mariana não suporta a perda do amado, enlouquece
quando percebe que seria impossível viver sem a presença de Simão. A filha do
ferreiro joga-se nas revoltas águas do mar, as quais já haviam recebido o corpo
de Simão. O suicídio de Mariana abraçada ao cadáver de Simão marca o fim da trágica história
dos Botelhos e Albuquerque. Sua paixão desmedida
a levou à perdição.
Análise
Ação - A história gira em torno de duas situações opostas: o ódio entre
as famílias Botelho e Albuquerque e o amor entre Simão e Teresa.
Características típicas de tragédia romântica:
Intensidade de sentimento, comportamento pessimista e entediado por
parte dos protagonistas, comportamento rebelde, observado no tom desafiador dos
filhos aos pais, o sofrimento dos protagonistas a crescer pouco a pouco
(clímax), O altruísmo e amor incondicional da personagem Mariana. Temática: amor e morte (Longe do amor o
melhor é a morte). Atos violentos e desesperados são justificados pela defesa
daquilo que crêem ser um motivo nobre: O amor.
Personagens -
No triângulo amoroso Simão-Teresa-Mariana, os dois primeiros são personagens
tradicionais. Teresa é o tipo de garota romântica da época, passiva, amorosa, delicada.
Não apresenta muitas possibilidades. Simão é já um personagem mais humano e
intenso. Loucamente apaixonado a princípio, o tempo que passou na cadeia diminuiu-lhe
o entusiasmo amoroso.
Mariana é uma personagem complexa, dedica-se a um homem que sabia muito
bem estar louco por outra, num amor-vassalagem aproximado ao dos cavaleiros medievais.
Espécie de confidente dos amantes, é Mariana que freia, de certa forma, os
impulsos passionais dos dois. Mariana era para Simão quase como uma espécie de irmã,
mas ela mantinha sua paixão pelo amigo em segredo, controlando seu ciúme quando
ele precisava de uma confidente para desabafar suas saudades de Teresa, a moça
sentia um amor paciente que se conformava em esperar qualquer perspectiva de
unir-se ao infeliz moço, amigo de seu pai, que um dia lhe apareceu em sua casa.
Inspiração
Camilo possivelmente pretendia contar toda a história dos Botelhos.
Parte da história assenta em fatos reais: Simão Botelho existiu na realidade,
seria um dos tios de Camilo e foi preso (mas por ter ferido um criado de José
Cardoso Cerqueira); foi julgado e o pai intercedeu por ele e foi condenado a
degredo para a índia, mas não morreu na viagem. Como vemos, os fatos reais foram
totalmente adulterados de forma a aproveitar os aspectos convenientes e
interessantes para uma boa história.
Há aspectos da obra que lembram muito o romance “Romeu e Julieta” do
autor inglês Willian Shaeskespeare, como exemplo o elemento complicador: o
impedimento entre os amantes (as famílias inimigas), que progride com o
assassinato do primo de Julieta,
Teobaldo Capuleto (o príncipe dos gatos) cometido por Romeu e o
final trágico onde os amantes morrem.
Alguns elementos diferenciam as obras como: a composição da personagem
Mariana, que apesar de se sujeitar a um amor não correspondido e apresentar
características comportamentais comuns às mulheres portuguesas do século
XIX, que por imposição histórica ocupavam um papel secundário na família. Submissa e fiel, Mariana jamais reclama sua infelicidade. É a personagem
que mais sofre no romance, nunca se realiza sentimentalmente e tem um final trágico:
o suicídio. Mas é a Mariana que apresenta ações que agitam a trama, é
ela que se coloca entre os protagonistas, e é por ela e por meio das cartas que
a história progride. Percebemos não só na personagem, como na temática da obra,
a visão do amor de uma forma arrebatadora, longe do domínio da racionalidade e fatalmente
ligado a morte.
Um outro elemento
importante a ser discutido são as cartas enviadas pelos amantes Simão e Teresa,
entregues por intermédio da personagem Mariana, é por meio dessas cartas que podemos
conhecer um outro lado dos personagens que eles não nos permitem ver, como
exemplo, a forma com que lidavam com os problemas. Enquanto Teresa parecia sempre
buscar uma saída racional para as dificuldades, mantendo a esperança viva,
Simão diante de adversidades sempre explodia de ódio, pensando sempre em acabar
com tudo, ameaçando matar alguém ou a si mesmo. Lendo as cartas, percebemos que
seu descontrole não se dava pelo desespero amoroso, mas principalmente pelo seu
temperamento violento e pessimista.
Pelas cartas também
temos a possibilidade de entrar em contato com uma nova versão dos fatos. Além
da versão do narrador, partes da história são recontadas sob o ponto de vista
de Simão e de Teresa presente nas cartas. Essa estratégia faz com que a trama apresente
uma lógica, uma equivalência com a verdade, ou seja, confere à obra
verossimilhança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário